ATA DA TRIGÉSIMA OITAVA
SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA
LEGISLATURA, EM 09.12.1997.
Aos nove dias do mês de
dezembro do ano de mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, na Sala de
Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às
dezessete horas e trinta e cinco minutos, constatada a existência de
"quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da
presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Poeta Luiz de Miranda, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº
103/97 (Processo nº 1636/97), de autoria do Vereador José Valdir. Compuseram a
Mesa: o Vereador Paulo Brum, 1º Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre,
presidindo os trabalhos; a Senhora Margarete Costa Moraes, Secretária Municipal
da Cultura; o Poeta Luiz de Miranda, Homenageado; o Vereador José Valdir, na
ocasião, Secretário "ad hoc". Ainda, como extensão da Mesa, foram
registradas as presenças do Senhor José Moreira da Silva, Presidente da
Academia Literária Gaúcha; do Senhor Sérgio Ribeiro Rosa, Presidente da
Associação Brasileira de Crítica Literária; do Senhor Oto Teixeira Pires,
Vice-Presidente do Centro Uruguaianense; da Senhora Luíza Conceição,
Vice-Presidenta da Casa do Poeta Riograndense de Divulgação e Intercâmbio
Cultural; do Poeta Luiz Coronel. Em prosseguimento, o Senhor Presidente
convidou a todos para, em pé, assistirem à execução do Hino Nacional, cantado
pelo Senhor João de Almeida Neto, acompanhado pelo Maestro Mário Barros. Após,
o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência alusiva à
presente homenagem, enviado pelo Senhor José Augusto Seabra, Embaixador de
Portugal na Romênia, e concedeu a palavra ao Vereador José Valdir que, em nome
das Bancadas do PT, PTB, PDT, PTB, PSDB, PMDB, PPS e PSB, teceu considerações
acerca da obra literária do Poeta Luiz de Miranda, afirmando que a presente
solenidade "é a homenagem da Cidade de Porto Alegre ao poeta que, com rara
beleza, soube compreender sua complexidade e cantá-la na sinfonia de seus
versos poéticos". Na ocasião, foram apresentados números artísticos pelos
Músicos Chico Saratt, Henrique Mann e Pery Souza, que interpretaram,
respectivamente, as músicas "Rio 77", "Roteiro da Paixão" e
"Pampa de Luz". Em prosseguimento, o Senhor Presidente convidou o
Vereador José Valdir a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão de
Porto Alegre ao Poeta Luiz de Miranda. Após, o Senhor Presidente concedeu a
palavra ao Poeta Luiz de Miranda, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa,
lendo poema de sua autoria, intitulado "Porto Alegre, Roteiro da
Paixão". Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé,
ouvirem a execução do Hino Riograndense, cantado pelo Senhor Eraci Rocha, acompanhado
pelo Maestro Mário Barros. Ainda, agradeceu a presença de todos e, nada mais
havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e quarenta
e oito
O SR. PRESIDENTE (Paulo
Brum): Neste momento, damos início à 38ª Sessão Solene da 12ª Legislatura
destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao poeta
Luiz de Miranda, conforme Projeto de Lei do Legislativo nº 103/97 - Proc. nº
1636/97, de autoria do Ver. José Valdir.
Convidamos a
fazer parte da Mesa dos Trabalhos a representante do Prefeito, Secretária
Municipal da Cultura Margarete Costa Moraes e o nosso homenageado, o poeta Luiz
de Miranda.
Convido os
presentes a ouvirmos o Hino Nacional cantado por João de Almeida Neto sendo
acompanhado pelo maestro Mário Barros.
(Procede-se a
execução do Hino Nacional.)
Convidamos para
fazer parte da Mesa o Sr. José Moreira da Silva, Presidente da Academia
Literária Gaúcha; o Sr. Sérgio Ribeiro Rosa, Presidente da Associação
Brasileira de Crítica Literária; o Vice- Presidente do Centro Uruguaianense,
Sr. Oto Teixeira Pires.
Recebemos um
fax de Portugal do José Augusto Seabra, ex-Ministro de Educação de Portugal,
atual Embaixador na Romênia, conhecido no mundo como a maior autoridade sobre
as obras de Fernando Pessoa, de onde enviou suas congratulações ao Poeta Luiz
de Miranda.
(Procede a
leitura do fax.)
O SR. PRESIDENTE: Passamos a palavra ao Ver. José Valdir,
proponente deste Título de Cidadão. O referido Vereador falará pela sua Bancada
do PT, pela minha Bancada do PTB, pelo PDT, PSDB, PMDB, PPS e PSB.
O SR. JOSÉ VALDIR: (Saúda os componentes da
Mesa.) Caro Poeta Luiz de Miranda, nosso homenageado. Quando o homem
compreendeu que unido possuía mais força para sobreviver, defendendo-se e
conquistando a sua sobrevivência, constituiu-se em clãs, cidadelas, aldeias,
burgos e estados. Devemos aos artesãos, aos artistas, grande parte dessa
história. São eles que cantam, retratam suas aldeias com as cores e as dores
dos dias que preguiçosamente fazem a história. Que importa de que mares nunca
dantes navegados aportou o poeta, que mãe o acalentou, se ele aqui nos vê, nos
ouve e nos fala? Hoje, a nossa homenagem é para o poeta Luiz de Miranda,
concedendo-lhe o justo e merecido Título de Cidadão de Porto Alegre. Acredito
que esta homenagem é muito singela diante da amplitude da sua poesia. Mas ao
poeta, como disse outro poeta: "Tudo e nada cabe." Quem dera todas as
cidades acolhessem seus poetas, não como ilustres visitantes, não como
construtores de personagens, não como a consciência de nossas almas capengas,
mas como aquarelistas de paisagens coloridas, assim como o homem que senta ao
nosso lado sem medo de falar, sem medo do tempo, sem medo da hora,
compromissado com o belo. Quem somos nós, os homens, para compreender nosso
entorno, estarmos aquém e além do imediato que nos cerca? É tarefa sublime dos
poetas lutar pelo futuro.
Luiz de Miranda
lutou durante toda a sua vida pelo futuro, pela utopia. É autor de doze livros,
sendo que "Amores Imperfeitos", de 1996, encerra a trilogia amorosa
do poeta, que começou com "Porto Alegre, o Roteiro da Paixão", de
1985, seguido de "Amor de Amar", de 1986. Sua obra é composta por
"Andança", 1969; "Memorial", 1963; "Solidão
Provisória", 1978; "Estado de Alerta", 1981; "Antologia
Poética", 1987; "Livro do Passageiro", 1992; "Livro dos
Meses", 1992; "Poesias Reunidas, 1992; "Livro do Pampa",
1995.
Em publicações
coletivas, destaca-se "Antologia da Poesia Brasileira Contemporânea",
1986.
Sua poesia tem
sido reconhecida por escritores e críticos, como Antonio Houais, Carlos Drummond
de Andrade, Raul Bopp Ferreira, Ferreira Gullar, Nelson Werneck Sodré, Moacyr
Scliar, Alceu Valença, Mário Quintana, José Edil de Lima Alves, Antonio
Hohlfeldt, Guilhermino Cesar, Tabajara Ruas, Felix de Atayde, Adovaldo
Fernandes Sampaio, entre outros.
Premiado nos
Estados Unidos, na Itália, no Panamá, no Paraguai. Já recebeu desta Casa, em
1988, o Prêmio Literário Érico Veríssimo.
Nesta homenagem
ao poeta Luiz de Miranda desejamos homenagear a todos aqueles que condensam o
mundo em suas mãos, que escrevem com letras tortas, que datilografam, que
riscam na superfície palavras que buscam interpretar os nossos mais
imperceptíveis gestos e palavras que espelham profundamente a nossa alma.
Esta é uma
homenagem da Cidade de Porto Alegre ao poeta que com rara beleza soube
compreender em sua complexidade e canta na sinfonia de seus versos poéticos.
O nosso abraço
ao poeta Luiz de Miranda, Cidadão de Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Como extensão da Mesa, queremos registrar a
presença da representante da Casa do Poeta Riograndense de Divulgação e
Intercâmbio Cultural, Luíza Conceição, sua Vice-Presidente.
Também o nosso
querido amigo, e também Cidadão Emérito de Porto Alegre, Luiz Coronel, poeta e
escritor que se faz presente.
Registramos a
presença do Ver. Guilherme Barbosa, nosso 2º Secretário.
Passamos à
apresentação do cantor Chico Saratt, da música “Rio 77”, dedicada a Porto
Alegre, de composição do poeta Luiz de Miranda e Kledir Ramil.
(É cantada a
música.)
Queremos
registrar a presença do Ver. Fernando Záchia.
Passamos a
apresentação do cantor Henrique Mann que vai abrilhantar este momento com a
canção "Roteiro da Paixão" em homenagem a Porto Alegre.
(Apresentação da música.)
Em homenagem ao
nosso novo Cidadão Emérito de Porto Alegre, vamos ouvir o Sr. Pery Souza
cantando a música "Pampa de Luz".
O SR. PERY SOUZA: É uma grande satisfação prestar esta
homenagem ao Luiz Carlos de Miranda. Esta canção é uma parceria nossa e uma das
minhas canções com mais gravações por aí, no Brasil, na Argentina e até na
França.
(Apresentação
da música.)
Convido o Ver.
José Valdir para que faça a entrega do Diploma de Cidadão de Porto Alegre ao
Poeta Luiz de Miranda.
(É feita a
entrega do título.)
Concedemos a
palavra ao nosso mais novo Cidadão de Porto Alegre, Poeta Luiz de Miranda.
O SR. LUIZ DE MIRANDA: (Saúda os componentes da
Mesa.)
(Lê.)
“I
Porto Alegre
Porto Alegre/alegria/pra nós que precisamos/nós que somos mais tristes/que
alegres/e vivemos esse tempo/essa morte/esse pássaro de febre
II
A paixão
mora/dentro do coração/alucinado/Vamos, cidade, vamos/mais rápida/ que a sombra
do ar/vamos num pé de / mais secreto que o pensamento/Vamos, cidade, vamos/à
aurora de todas as cidades/como se não existisse o tempo/dormindo no fundo das
coisas/Vamos, cidade, vamos/me leva em teus barcos de rio/às correntes de além
mar/ onde eu possa morrer de amar/Vamos, cidade, vamos/a paixão é fome/nas
nuvens da alma/a paixão rouba do amor/o seu silêncio/mas dá ao amor/o seu sustento/Vamos
encontrar/a luz enlouquecida dos cometas/vamos às palavras/na febre azul dos
planetas
III
Vou dentro da
noite/que o poema nunca/soube penetrar/ele flagelou-se/ao fantasma das
palavras/ele é sempre/a sombra do que se queria/ele não me deu o amor/mas sim o
amar/Vou pela cidade/alucinadamente alegre/pensando e escrevendo/nos ombros da
poesia/a que luta/ao custo mais grave/às portas da tristeza/para
cristalizar/num instante/a beleza
.............................................
VII
Paixão, cavalo
de ventania/cavalo de cancha reta/cavalo sem freio ou parelha/cavalo cavalo
cavalo/Paixão/se a cidade não se amplia/nas alamedas da vida/é porque há sono
demais/nos ritmos da poesia/há sono em demasia/em minha amada Maria/E o coração
da tarde/não enternece o dia/somente equilibra/nossa densa agonia/Há sono
demais/no Palácio Piratini/nas repartições públicas/no Judiciário/a cidade
dorme pesado/e estão parados meus olhos/de anjo assassinado/Paixão/vem da palma
do verão/acordar os sinais dormidos do amor/e traduzi-los em faróis de alto
mar/para que eu possa sempre navegar/Sem o destino medido/com o sentido da
aurora/movimento de fogo vivo/à beira de qualquer hora/Sem o destino medido/a
decretar o instinto/mas a vestir a cicatriz/como se veste o domingo/e dominar o
horizonte/com a resina do sonho/e construir a mim mesmo/para
reconhecer-me/depois perder-me/e vazar na alma da cidade/no seu corpo/que me
engana/que é fútil e esgarceia-se/em ruas, edifícios, etc./Vazar no violino/de
suas árvores/ardendo ao vento/Sem o destino medido/pela paixão/a paixão onde
houver vida/pecar pela paixão/que o coração morra/sob sua luz/que o peso do
pecado é abstrato
....................................................
IX
Porto Alegre
Porto Alegre/alegria em nós que precisamos/desço a Avenida Borges de
Medeiros/com os sintomas da solidão/a sorte da vida num veículo/de poucos
haveres/com vínculos suspensos pela morte/Tentando romper o torpor da
tarde/ viajo/às constelações da
ausência/às lâmpadas do amor/sob o pânico e a dor/não refletem/a não ser o
rosto desfocado/a incandescente tristeza que lhe desenha/Toda hora é hora/de
morrer de amor/entre a respiração difícil/das flores arrancadas/padeço a
ausência da mulher amada/que se aparece/na madrugada/é cinza e esquecimento/no
meio da tarde/Mas toda a vida/vale o amor/que respiro por ti/cidade
paixão/movimentos indecifráveis/do coração/vale o amor/incorporando-se ao
plano/de uma luz noturna/ao palmo mais claro do caminho
..................................................
XVI
O bar é na cidade/o
esconderijo/apóia-se nele/nosso ser secreto/A lúcida esperança/molda nosso
rosto/entre o álcool e a fumaça/para renascer/os retratos mortos/o pensamento
morto/o amor perdido/tudo o que tivemos/e esgarçou-se/num suicídio silencioso/A
paixão tem no bar/o seu vórtice/desenha a carvão/na palma esquerda da mão/o
destino, a alma/entre as distâncias noturnas/de suas mesas/pelo reverso da
dor/que se inscreve/no vidro dos copos/No bar nos escondemos/da velocidade das
coisas/do que voa sem nome dentro da noite/à procura dos vocábulos da aurora/e
esparrama-se na mesa/neste conflito amargo/de luz e tristeza/mas se medimos/aos
ângulos do meio-dia/é nossa infância perdida/No bar nos escondemos/para não
perdermos a paixão/o milagre de atacar a dor/com a fúria vegetal do amor/de
atacar a dor/com os pesadelos do próprio sofrimento/Roer a dor no bar/é quase
morrer de amor/A vida traz a luz/sem a penúria de perder/o azul/na avidez do
corpo/O rosto do amor/sobe pela angústia/pelos nomes/que morrem aqui/neste
universo/de sonho e fumaça/As linhas do amor/sobem além da própria alma/onde
desembarcarmos a esperança/as travessias dolorosas/onde desembarcamos sem
portos/nossos frutos nossos filhos/nossos mortos/verso antes da aurora/Canta
paisagem de bares/Batelão, Big Som, Chão de Estrelas/Vinha D'Alho/Os tombos
desiguais da morte/a sobreviver-nos/pela longínqua acidez da noite/Noite/pátria
de lembrar/pátria de pedra/que limita o coração/ao texto/iluminando o hábito
livre das palavras/Não desaparece na noite/o que ferve em luz no poema/que é um
sopro, um aponte, um potro/o verbo intransitivo de nossas veias/o que a memória
escreve/ao sul do coração/a força natural de amar/o secreto dormir das
frutas/dentro da vida/à porcelana branca/de nossa fome/Não desaparece na
noite/o que vibra em fogo no poema/Canta paisagem de bares/que minha
amada/suicida-se no cristal barato/desta mesa/neste avesso retrato do que se
ama/o amor é a luz/que nos trouxe da infância/caminho/e sempre nos
perdemos/nervos ao vento/Bar/esconderijo da cidade/onde noturnamente me
dirijo/com meus pecados expostos/na tristeza desfocada do rosto/O bar é o
coração de um homem/visto na lente da dor/na lágrima sob luzes/e pulsam
esperanças/de uma criança que se perdeu/na noite/e precisa renascer/na estrela
alucinada do amanhecer/Bar/esconderijo da cidade/um pedaço vivo,
verdadeiro/quem procura sabe/o que chamou felicidade/Respira por mim Porto
Alegre/mais triste que alegre/que eu procuro cantar/sem afastar a dor maior/que
é a dor geral/que não tem nome/porque é de todos/principalmente dos
homens/humildes e humilhados/que trabalham suas vidas/à luz da miséria/de cada
dia/Que nos arrabaldes/podemos vê-los indecifrados /na paisagem de
espinhos/desta cidade tão desgastada/pelo egoísmo/que a flor preferida é o
dinheiro/que seca o coração/e põe os olhos/num horizonte sem luz/Porto Alegre,
Porto Alegre/eu te canto para além/de toda a miséria/porque em ti vive o melhor
de mim/e somos a mesma semelhança/a luzir às frestas desamparadas do
meio-dia./Eu te canto Cidade, como minha pátria./Como minha pátria: loucura e
paixão,/onde meus ossos encontram o sono mais pesado./Onde meus ossos
encontram/o sono mais pesado/e me concilio num caminho para morrer."
Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Para coroar este momento, depois dessa bela
interpretação do nosso Poeta, Cidadão de Porto Alegre, queremos convidar os
presentes para a execução do Hino Rio-Grandense, interpretado por Eraci Rocha e
acompanhado por Mário Barros.
(O Hino
Rio-Grandense é executado.)
Queremos
parabenizar o nosso colega Ver. José Valdir por essa belíssima homenagem que
proporcionou a esta Casa. Em nome da Casa, dos Vereadores e da Mesa Diretora
parabenizamos também o nosso novo Cidadão Emérito de Porto Alegre.
Agradecemos a
presença de todos.
Neste momento
encerramos os trabalhos da presente Sessão.
(Encerra-se
a Sessão às 18h48min.)
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